Amanheci de Bode

Hoje eu amanheci de bode, com uma ressaca de comer papel de embrulho para me vingar do porre da carraspana da noite passada. Estou injuriado com o políticamente correto, com as convenções do mundo, da falta de humanidade e humildade das pessoas, da troca de favores em função do lucro e dos benefícios escusos; da legião de loucos e doentes mentais que nos cercam e nos contaminam diariamente com sua falta de solidariedade e de amor próprio com seu rádio mental revoltoso e odioso, cornetando com um megafone a tudo e a todos, disseminando maus presságios e seu negativismo por onde chega.

 Hoje amanheci com a macaca, chutando lata, pedregulho, dando cascudo em anão, tamanha a minha raiva desse momento tão ruim que nós vivemos, das dificuldades que passa nossa gente sem emprego e sem um grão de bico na panela, sem um salmãozinho na mesa, uma garrafa de Moet Chandom para nos alegrar com uma nega cheirosa no colo a nos dar cafuné e a nos chamar de gostoso!

Ah, que puta de vida mais chata, vendo-a passar e os cabelos brancos a nos denunciar da velhice que chega e nos amaldiçoa com uma diabetes, uma artrose, uma doença degenerativa qualquer nos jogando num estágio vegetal onde ninguém nos quer para cuidar. Porra!

Por que tanta inveja? tanta falta de humildade nas pessoas, se no fundo não valemos um tostão furado? se como diz a grande obra augustiniana "somos carnes a feder e a morada dos vermes?"

Amanheci de bode, injuriado por mais uma dia de protesto contra as desigualdades do mundo.

Edilberto Abrantes.