Saudade infante
Havia um sítio que nós chamávamos de "velho Azarias" e nele havia uma beneficiadora de arroz, onde tomávamos banho de rio o ano inteiro! havia muitos pés de manga por lá e era uma delícia surrupiar as mangas do "velho Azarias" e correr da ira dos empregados do sítio sob tiros de Sal, na tentativa de nos meter medo e nos castigar por aquela infração de roubar mangas e goiabas de seu pomar; mas, o bom era o roubado como um beijo da mais desejada menina; o bom era o proibido, era tomar banho nas águas do rio nos limites do "Velho Azarias" sendo perseguido sempre por seus empregados (numa dessas vezes prendendo nossos calções no interior da beneficiadora de arroz, e como resultado, ficamos nós, mais de oito meninos nus, pedindo num choro desesperado que nos devolvessem a roupa!).
Hoje sinto saudade desse tempo, dessa memória viva dentro de mim e que me fez o homem que sou hoje. Foi pela mão do tempo que me proporcionou uma infância completa, cheia de brincadeiras, aventuras entre a velha usina de Docil Braga até a jangada, passando pela ponte do trem, o sítio Paquequé e a barragem de Mestre Júlio Sarmento na lagoa dos patos.
Houve um tempo, que andei tanto no caminho de Sousa até o Sítio Jangada montado num cavalo branco que meu pai possuía e que me fazia todos os dias deixá-lo e ir buscá-lo na Jangada para fazer suas viagens pelos sertões (meu pai era boiadeiro e comprador de gado) que eu já sabia de cor o caminho, cada pedrinha que tinha no caminho, cada aclive, declive, a vegetação, os calangos que passavam na minha frente, cobras corre-campo, cobra verde, cobra de caçote, pássaros de uma diversidade que daria uma folha corrida nominá-los uma a um na época do inverno.
Na verdade, tudo ficou na saudade de uma época em que cruzávamos o mato temendo picada de cobra, diferente de hoje que vivemos reclusos dentro de nós mesmos temendo sair de casa, cruzar os matos indo até o sítio jangada ou a carnaubinha no risco de sermos assaltados ou mortos pela mão do mau feitor, do salteador que vive à espreita nas estradas disseminando terror.
É uma pena.
Edilberto Abrantes
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