Quem sou eu?

Quero passar pela vida, sem que voce me veja de uma forma que eu não sou. Será que é tão difícil me ver do jeito que eu sou? sem as cobranças sobre meu jeito de ser? é tão difícil as pessoas enxergarem em si próprio o que veem nos outros? - Cara você está barrigudo... O que foi, tá comendo amarrado é? tá parecendo filho de ladrão quando o pai ta solto! ou então: Ih, você está ficando sem graça, com esse cabelo ridículo! ta estudando é? pra que? do jeito que a coisa anda você não vai chegar a lugar nenhum... é tão difícil sem a indiferença das pessoas, né? sem aquele riso falso desejando que a gente vá pro inferno e que se exploda pelo sucesso momentâneo por alguma coisa que a gente fez ou realizou porque era nosso trabalho e que este trabalho poderia ser sucesso ou não!

Será que a gente não merece ser feliz? dizer bom dia ou quem sabe não dizer nada? Esse negócio de ser obrigado a falar alguma coisa é um problema e uma chatice, porque somos obrigados a falar com quem não queremos; somos obrigados a dar tapinhas nas costas dos outros e tambem a receber tapinhas nas costas! Tem negócio mais chato do que receber tapinha nas costas? Eu quero ser visto como um indivíduo comum, real. Quero ser visto como um cidadão, não como uma caricatura virtual, vivendo uma vida que não é minha: sem privacidade; exposto a quem quer que seja, onde qualquer um, pode ter acesso e apontar o dedo; mensurar uma falta, uma falha sem que eu possa dizer nada pela condição de vida que abracei e que não tem nada de romântico ou de idealismo, mas simplesmente surreal. A vantagem é que a velhice chega mais cedo. Quero ser eu mesmo! Eu preciso ser eu mesmo, as pessoas precisam enxergar a mim como uma pessoa não como um homem um objeto, um mito social, um status, uma personalidade, porque tudo isto é efêmero, passageiro, desvirtua, corrompe, estressa, generaliza, modifica, segrega, cria expectativas falsas e eu sou apenas alguém em busca de si mesmo.

Edilberto Abrantes